quarta-feira, janeiro 10, 2007

Pescanova

Ou eu me engano muito, ou a crise económica em que vivemos vai provocar um retrocesso, talvez de décadas, na forma como enfrentamos o problema dos impactos ambientais das actividades humanas no Ambiente e na Natureza.
Os argumentos, o show-off e os intervenientes têm sido sempre os mesmos.
  1. Num tempo de vacas magras a criação de 350 postos de trabalho (previstos, não reais) e a injecção de vários milhões de euros (altamente financiados pelo próprio estado - apoio de 45ME), permitem passar a imagem de alguém (normalmente um ou dois ministros) que trabalham arduamente para angariar investimento. Tem uma certa piada pois ignoram (e todos deixam que o ignorem o que acho fantástico) os despedimentos e encerramentos (estes bem reais) a acontecerem em simultâneo mesmo ali ao lado;
  2. O interesse público, definido unilateralmente pelo estado (este estado) e por agências de investimento que deixam qualquer ecologista, conservacionista (ou outro "ista" qualquer) de cabelos em pé e arrepiado com o que isto pode dar, já que se tornou regra, recorrer aquilo que deveria ser em si mesmo a excepção - Recorrer ao interesse nacional do projecto.
  3. A QUERCUS, que é normalmente chamada a dar publicamente opinião, não consegue sair dos mesmos argumentos estafados, passando uma imagem retrógada que só serve quem já tem tudo decidido e que permite, repito, que se digam coisas como"... O presidente da API, Basílio Horta, foi mais duro e afirmou que, “se seguissem o que a Quercus diz, não havia investimento em Portugal”. “A API protege o ambiente e não recebemos lições de ninguém nesse domínio”.
  4. O Ministério do Ambiente, esse, faz-se notar precisamente por não aparecer. Não existe? Não tem nada a dizer?

Vivemos numa época, com a sensação de que qualquer proposta de investimento, desde que garanta algo que se veja por parte do estado, ultrapassa tudo o que foi conseguido durante vários anos em termos de conservação da natureza.

E com este tipo de decisões, questiono-me sobre o porquê dos milhões gastos em avaliação de impacto ambiental de inúmeros projectos infraestruturantes, de urbanizações, barragens.

Eu sei que assim surgem coisas boas (o Parque Florestal de Monsanto é um bom exemplo) mas este tipo de processo de decisão, pensava eu, tinha passado à história. Se é para voltar a esses tempos. Devem existir por aí muitas saudosistas com inveja.

Mais informações sobre a Pescanova aqui:

http://www.asbeiras.pt/?area=regiaocentro&numero=37209&ed=09012007

http://dn.sapo.pt/2007/01/09/economia/unidade_pescanova_dificilmente_sera_.html

http://jn.sapo.pt/2007/01/09/centro/pescanova_rede_natura_e_entrave_para.html

ps. lembrei-me agora, ouvi no outro dia na TSF, o Macário Correia (como é possivel) dizer que se o governo queria fazer o que o Ministro da Economia propôs para o Algarve (mais campos de golfe) seria necessário ultrapassar muitos processos legais decorrentes dos instrumentosde planeamento do território. Quem sabe talvez recorrendo ao argumento do "Interesse Nacional".

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