quinta-feira, julho 21, 2011

Algar do Zé de Braga

Visita - 16 Julho 2011
Folha 318 IGE ed. 2004 - Mira de Aire (Porto de Mós)
Coordenada - 29SND244708, Pias Largas
Corda - 30m; spits de 8mm e pernes de 10mm permitem uma boa diversidade de amarrações para uma descida segura.

Aspecto da entrada do algar
A AESDA realizou mais uma saída de campo com o objectivo de avançar um pouco na exploração do Algar do Palopes. Eu e o Nuno, que não participávamos directamente nessa actividade, decidimos continuar as nossas aventuras no planalto e fomos visitar o Algar do Zé de Braga, uma cavidade cársica que se encontra também no planalto da Serra de S. António, a Norte da povoação de Monsanto na zona do Vale do Pombo/Pias Largas.
A sua exploração foi uma grande surpresa. Pela descida vertical, um P17, fácil de aparelhar e de descer, pelo seu desenvolvimento horizontal, com salas de grandes dimensões, uma enorme diversidade de espeleotemas e pela presença inesperada de duas espécies de répteis na base da descida.

Cobra-de-escada
A entrada está protegida, por um maciço arbustivo de Aroeiras e Zambujeiros e por uma grade que é preciso saber vencer. A descida, de 17m, directa, dá-nos acesso a uma primeira sala, entulhada, com um cone de detritos, pedras, cascalho, muito material vegetal e, para além das nossas amigas Salamandras-de-pintas-amarelas (Salamandra salamandra), desta vez tivemos a companhia de uma pequena Cobra- de-escada (Elaphe scalaris) e de uma Cobra-rateira (Malpolon monspessulanus). A primeira, nitidamente afectada pela temperatura da cavidade apresentava uma mobilidade reduzida e conseguimos transportá-la para o exterior no final da subida. A Cobra-rateira, essa, depois de nos atirar com uns silvos, mostrou que apesar do local menos propício às suas actividades regulares, não estava ainda pronta para ser resgatada (típico de um dos ofídeos mais agressivos da nossa herpetofauna). Como pudemos ver, também pelos restos mortais de uma outra cobra (não identificada) este algar funciona "bem" como armadilha para répteis, já que estes são "visitantes" inesperados do mesmo. Foi também observado um Sapo-comum (Bufo bufo).

Face interior do açude do gour referido no texto
Munidos do croqui da cavidade, avançamos em direcção à sala grande, sala das excêntricas e sala das argilas e eu tive o meu primeiro "ooohhhhh", quando venci uma crista de lajes (caídas do tecto) muito concrecionadas e tive um vislumbre da dimensão da sala. Sempre são quase 60m de comprido com 10 de altura. Uma catedral portanto, com inúmeros detalhes para ver e explorar.
O que mais me impressionou foi um "gour", situado no lado esquerdo da sala, no seu ponto mais baixo. Não tinha água (não consegui perceber se definitivamente ou se encherá mais tarde), mas é o maior que já vi e deu para fotografar umas belas formações de cristais de calcite.

A sala das excêntricas é um mimo. Centenas de pequenas excêntricas, alvas, que crescem em todas as direcções e que permitem algumas observações muito interessantes.

Bolhas de calcite (?)
Na Sala das Argilas fotografei uns espeleotemas que desconhecia. Parecem umas bolhas de calcite (?), muito frágeis e que encontrei numa das paredes de acesso à sala. Talvez pelas fotos alguém me possa esclarecer o que são exactamente.

A exploração da cavidade é muito simples. Depois da descida do poço do algar não é necessário continuar a usar cordas e podemos libertar-nos do peso do equipamento colocado à cintura. Não existem ramificações, passagens apertadas e grandes problemas de orientação já que podemos seguir facilmente o croqui, existindo inúmeros aspectos geológicos que podem ser observados. Para um iniciado na espeleologia como eu, esta foi uma das cavidades mais interessantes que já visitei. Existe pois muito espaço e tempo para explorar e fotografar e áreas muito confortáveis para descansar se for necessário.
Mesmo assim estamos sempre a aprender e uma má avaliação do desenho impediu-nos de visitar a ultima sala. Por sinal a que exigia a transposição de uma passagem bem estreita, localizada num local onde parecia não existir nada. Como começo a perceber, nestes ambientes, por vezes devemos esperar encontrar passagens em zonas improváveis e não deixar tudo, mas tudo, sem uma espreitadela com olhos de ver. Quer isto dizer que teremos de lá voltar. Chatices.

Tubulares
Pormenor do tecto da "Sala das Excêntricas"








1 comentário:

Rui Nunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.