segunda-feira, outubro 24, 2011

Algar da Arroteia

Diz que é um clássico. Seja como for, este é um daqueles destinos para os quais existe muita informação prévia. 
in Thomas, C. (1985) Grottes et Algares du Portugal.
Para além a descrição da exploração em Thomas, C. (1985), existem muitas fontes com fotos e textos (aqui exploração de um grupo inglês; aqui a génese do NALGA e até mesmo aqui). No seu conjunto permitem, alguma previsão do que se vai encontrar. A equipa era composto por cinco elementos, eu, o Nuno e Gonçalo (que se responsabilizaram pela equipagem - mais uma vez bem feita diga-se de passagem) e ainda o Tiago e a Silvia.

 


Mas mesmo com "croquis" e com companhia que repetia o algar, existem sempre novidades e até mesmo algumas surpresas. O poço de entrada tem 45 m de vertical directa até à base, desce-se em segundos (na subida parece não ter fim), e a base do poço impressiona pela verticalidade das paredes. Aqui a 45 m de profundidade, a presença de salamandras e de sapo comuns, apesar de aguardada, não deixa de espantar face à distância da superfície. Sobretudo para os Bufo bufo (aparentemente um casal).
A passagem no P15 seguinte impressiona pela presença de blocos entalados ao longo da parede do poço e que parecem estar em periclitante equilíbrio. Esta visão tornar-se-à uma constante em diversos locais da diaclase que percorremos. 
No final da sala do P15 a primeira surpresa.
O rio que corre normalmente neste local, que alimenta as nascentes do rio Lena, alguns km a Norte, estava parado. De tal forma que por mim teria seguido pela galeria da direita, já que de acordo com o que pude observar estava sequinha. Uma observação mais atenta mostrou que estava era cheia de água, tão limpida e imóvel, que quase não se percebia a sua existência ... só depois de lhe colocar um joelho em cima.

Meandro de acesso à cascata
Neste local tivemos a primeira surpresa. Quando descemos, aproveitei para desenhar a base do poço. Pasme-se que as minhas leituras da bússola são exactamente opostas à que consta na planta do Thomas. Existem duas hipóteses: 1ª o desenho no Thomas tem o Nm invertido; 2ª eu não sei ler uma bússola - nenhuma delas é fácil de aceitar e as implicações de qualquer uma delas são mais ou menos sérias, por isso fiquemo-nos por agora pela segunda hipótese, mas prometo que quando lá voltar não deixo esta questão por esclarecer. O facto é que para orientarmos correctamente a planta temos de a inverter no local. Só depois de alguma polémica é que ajustamos o desenho ao que observávamos no local.
Polémicas à parte enfiamo-nos pelo meandro que acede à cascata, que tinha água em poças límpidas (que diferença em relação ao Mindinho) e que não colocava quaisquer dificuldades na progressão. Deve ser engraçado passar ali com um volume de água maiorzinho.
Detalhe da galeria fóssil.
No cimo da cascata escolhemos a galeria que corresponde à ribeira fóssil, (a bem dizer ninguém deu pela passagem à direita, à mesma altura e que dá acesso à galeria fóssil mais pequena) que percorremos em toda a sua extensão, até à sala que implica a execução de uma pequena escalada (. A galeria é linear e as passagens mais ou menos fáceis de encontrar e transpor. Um estreitamento antes da sala da escalada pareceu-me um dos apertos mais difíceis. Foi aí que a equipa se partiu. O Tiago não se sentiu à vontade para forçar a passagem e nós decidimos não prolongar a exploração do outro lado, deixando-o sozinho à nossa espera.
Neste local a diaclase é bem generosa. São pelo menos 3 m de largura e uns bons 15m de altura de paredes lisas e muitos blocos, de grandes dimensões, entalados em vários níveis. De acordo com o Gonçalo, esta sala pode tornar-se um lago com cerca de 80cm de altura. Mais uma razão para lá voltar.

Progressão na galeria fóssil
A escala da planta do Thomas é outro problema. As galerias perdem muito detalhe no desenho. Pelo menos a zona central merecia um desenho numa escala menor, se é que já não existe. Mas agora, depois de lá ter estado, percebe-se melhor o texto, sobretudo onde procurar a passagem para a outra galeria fóssil.

Já não fizemos a descida da cascata e muito menos a exploração da galeria activa. Esta ultima, pelo facto de a ninguém apetecer uma molha depois de seis horas em gruta, nem que fosse para perturbar as águas.

Por isso fomos logo para o calvário da subida. Eu que pensava já ter a técnica dominada, tive de rever a minha opinião. Não domino nada! Fiquei super surpreendido pela elasticidade da corda. Não estava mesmo nada à espera de tanto balanço e usá-lo a meu favor é coisa que ainda não está ao meu alcance. Por isso os primeiros 10m foram um suplício em que a sensação de não sair do sitio era mais forte do que a sensação de estar a subir. Mas cheguei ao topo, saí e ... esparramei-me logo pelo chão com as pernas e os braços aos gritos a recuperar do esforço. Da próxima vez corre melhor.

Uma visita a repetir.

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