Saída organizada pelo GEM para monitorização de colónias de morcegos em diversos algares do PNSAC. A mim calhou-me integrar a equipa que visitou o Algar do Louro na zona de Alcobaça.
O croqui que publico é de 2003 elaborado aquando de uma das explorações da SSAC em Portugal.
Foto 1. Aproximação ao P10 |
As pesquisas na net vão invariavelmente parar ao blog do NEALC. Núcleo de Espeleologia de Alcobaça. Apesar de não existir uma entrada específica sobre este algar, um email enviado teve como resposta por parte do Orlando António muita informação útil e interessante.
O algar surge rodeado de eucaliptais, no fundo de uma dolina que protege um maciço de vegetação muito interessante. Adernos arbóreos, Folhados, Carrascos, Heras, Medronheiros, entre outras, criam um estrato arbóreo denso e, infelizmente, quase estranho ao ambiente circundante.
A abordagem faz-se sem problemas de maior e o primeiro poço, de 10m, deixa-nos aterrar num monte de detritos/lixo.
Para variar do calcáreo |
Latas enferrujadas, bisnagas, madeiras e outros materiais muito antigos (com origem na Abadia de Alcobaça ??) tornam esta zona muito instável, devido à sua decomposição. Eu afundei-me cerca de 1m neste monte de lixo. Não foi uma sensação engraçada, sobretudo porque não existe uma ideia definitiva da dimensão do entulho ali depositado.
Na base do cone de detritos, encostada à parede direita do algar, surge a entrada para o P17. Uma vertical perfeita e simples, que termina numa rampa que após uma sucessão de ressaltos (1 An, 3 fracionamentos, 1 protector de corda e um P6 final) nos permite aceder à galeria principal.
Nesta os vestígios de morcegos eram abundantes. Muito guano, muitas marcas nos tectos e ... muitos cadáveres em decomposição. No principio apenas vimos um ou dois em locais mais baixos desta galeria, mas logo à entrada o aspecto era desolador. Recolhemos alguns cadáveres para avaliação.
A razão para esta mortalidade poderá estar nos elevados níveis de saturação que têm sido observados neste algar. Ficam aqui as recomendações do Orlando António " ... Alerto-te para teres especial atenção com este Algar, se entrares,
faz muita atenção porque normalmente na segunda galeria aos -35m, aqui
encontra-se sempre níveis de saturação de oxigénio, no verão em
especial, a respiração fica bastante forçada pela dificuldade em
respirar... no inverno já apanhei dias que também foram complicados,
sendo que no inverno foram feitas as melhores explorações nomeadamente
até aos -70, que chega bem perto do espelho de água... este Algar é um
pouco incerto em termos de ambiente pois na maioria das vezes estava
sempre presente a saturação, por isso evitar os gasómetros...
A topografia ainda não foi feita e falta algumas
zonas a explorar em definitivo, mas muitas dessas zonas que são mais
estreitas e dificeis de progredir estão ainda mais saturadas que a
galeria...
O Algar do Louro parece-me uma dolina de celha que
abateu e deu origem ao Algar (ver bem se é realmente essa dolina) a
primeira galeria logo aos -10 esta ainda a sofrer descompressão, existe
um forte abatimento que preencheu esta galeria e elevou o seu chão, zona
potencialmente perigosa a sul da galeria, a oeste existe um poço de
cerca de 15m e mais um ressalto de 8m (já dentro da galeria) que dá
acesso a segunda galeria a tal da saturação, na primeira sente-se o ar
tb algo pesado nomeadamente no verão.
Nesta galeria existe várias zonas a prospectar, existe um poço na
parede sul que dá acesso a uma zona mais profunda em
vários ressaltos que termina perto dos -70, a esta profundidade deve
existir uma diferença de 20m em relação ao espelho de agua das nascentes
do Alcoa, no fundo existe muito cascalho lavado, evidencia
de escorrência preferencialmente por esta zona, que deverá interceptar zona freática mais abaixo... desobstrução difícil mas possível, tem de vir tudo para a galeria..."
Apesar de não existirem muitas formações o algar parece muito activo e a circulação de água é bem evidente. Alguns detritos da superfície são arrastados até à base do algar e existem inúmeras marcas de erosão nas massas de argila que preenchem algumas diaclases.
Deixo-vos o desenho da sala principal, sem escala e sem orientação, mas com algumas observações (as fotografias dão uma ideia das dimensões):
1) A entrada faz-se pelo ressalto de 6m à esquerda (convém referir que o P12 indicado no croqui é dividido em 3 fracionamentos, o ultimo dos quais para o ressalto de 6m);
2) A galeria no canto superior esquerdo tem uma corda para auxiliar a subida. É um dos locais de hibernação de morcegos e foi também na base da descida que se encontravam a maioria dos cadáveres de morcegos;
3) A galeria secundária da sala, à direita, apresenta uma grande acumulação de guano. Foi neste local que se realizaram as recolhas;
4) A continuação do algar faz-se no seu extremo, numa sequência de poços. A entrada é ao nível chão e com muita lama por ali abaixo.
Foto 3. Galeria principal com Vitor a servir de escala |
Foto 4. Galeria lateral onde se recolheu o guano |
Participaram nesta exploração para além de mim: Vitor Amendoeira, Marta Borges (a quem pertencem as fotos 1, 5, e 6), Joana Pintassilgo e o Rui Braga. Um agradecimento muito especial ao Orlando António do NEALC pelas informações que disponibilizou.
Foto 5. O P17 bem iluminado, com a Joana Pintassilgo a subir. |
Foto 6. Na base do P17 |
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