quinta-feira, maio 17, 2012

Algar do Vale da Pena

Mais uma saída espeleológica para visitar um Algar localizado na zona de Alcobaça. Pouca informação disponível para esta visita, sem topografia e com poucas referências escritas de exploração. Um dos elementos do grupo, repetente, serviu de guia.

Aparentemente a designação como Algar ou Gruta dos Ursos deriva da presença das ossadas e das histórias associadas. Segundo informação recebida o verdadeiro nome desta cavidade será Algar do Vale da Pena e será "uma pena" deixar cair a designação correta e mais antiga em detrimento de uma que tem a ver apenas com um aspecto particular da cavidade.
Entrada do Algar. Esta e as fotos que ilustram este post são da Marta Borges.
A equipagem revelou-se algo trabalhosa já que inclui 3 fraccionamentos, o ultimo deles num tecto a definir uma vertical de descida, curta mas bem bonita. No total a extensão de corda utilizada (sem contar com os nós) medida com fita métrica foi de 30,30m. A equipagem com 3 fraccionamentos deve implicar a utilização de pelo menos 50m de corda.
O Algar do Vale da Pena revelou inúmeros motivos de interesse: muitos espeleotemas; depósitos de areias e vestígios osteológicos (as célebres ossadas de urso).

A vertical de descida no centro da sala principal.
A descida do poço deixa-nos no centro de uma sala, de grandes dimensões, sobre um depósito de blocos e com uma inclinação muito elevada (ver esboço de alçado). Foi na projecção da boca do algar que encontramos um exemplar de Víbora-cornuda (Vipera latastei) que tratei de "embrulhar" e no final da actividade transportar para a superfície.

A sala tem duas continuações possíveis. A da direita é a que apresenta mais potencial espeleológico, isto é, apresenta algumas hipóteses de continuação ainda mal exploradas (pelo menos com meu conhecimento). É nesta secção que surge o tubo/palhinha e uma secção com lagos que termina num túnel inundado (in Relatório de Actividades de Espeleogia. GEM. Fev, 2011) a merecer uma avaliação cuidada. [de acordo com informações adicionais do António Devile, do Nuno Rodrigues e do Sérgio Medeiros, nem o tubo nem os lagos oferecem hipóteses de continuação]

A galeria da esquerda apresenta, desde o seu inicio, um elevado número de estalactites, estalagmites, colunas e outros espeleotemas. Surpreendente pela diversidade, quantidade e integridade.

A progressão faz-se por um balcão lateral plano, que evita a descida ao ponto mais baixo onde existe um poço aparentemente sem continuidade. É na continuação desta sala que se observam os depósitos de areia. Estes depósitos estão cobertos por manto calcítico que em alguns locais, julgo até que por acção humana, começam a deixar "fugir" as areias que ficaram encapsuladas no manto. 
Entrada na sala do balcão.
As bolsas de areias encontram-se apenas na área que une a sala do balcão da sala dos ossos. Julgo ser interessante ver que a cota mais baixa destas salas é idêntica, bem como a cota do tecto.

Parece que os depósitos de areia e a subsequente "fossilização" com a consolidação do manto calcítico acabaram por separar estas duas salas. O esvaziamento destas bolsas dá origem ao aparecimento de estruturas suspensas, abóbodas cuja superfície inferior mostra um conglomerado a merecer uma visão mais detalhada por um "experto" que não um biólogo armado em espeleólogo.

Manto calcítico suspenso na zona das areias.

A sala dos ossos retoma a altura que se observa na sala do balcão e apresenta também uma elevada quantidade de espeleotemas. Nesta sala são de destacar os vestígios osteológicos, já envolvidos por calcite e uma coluna de calcite alva que apresenta uma superfície cheia de micro gours de grande beleza.

Esta gruta contém valores patrimoniais únicos. As bolsas de areias (a hipótese referida pelo P. Rodrigues no relatório anterior de se tratarem de vestígios do episódio marinho que fez da encosta ocidental do maciço uma arriba marinha devia merecer uma análise mais detalhada), a sua significação e a tendência de quem visita a gruta de escavar um pouco; os vestígios osteológicos e a sua posição periclitante no percurso e logo sensíveis ao pisoteio; a integridade e diversidade dos espeleotemas observáveis e finalmente a existência de pontas soltas (é muito provável que apareçam entretanto mais informações) tornam urgentes algumas medidas de conservação. 
A sinalização dos vestígios osteológicos pode evitar o seu pisoteio e a delimitação de um percurso na zona das areias pode impedir a sua crescente destruição.







Víbora-cornuda (no exterior depois de aquecer ao sol)
Apresentam-se de seguida os esboços parciais do trabalho de campo. Dados processados no Visual Topo.





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